Talvez seja a joia o objeto que melhor materializa e sintetiza os atributos mais marcantes do conceito de luxo: nobreza dos insumos, raridade, alto valor, beleza, longevidade… Afinal, o que pode ser mais raro que uma pedra preciosa? Que matéria pode ser mais nobre que o ouro e a platina? Que outro produto se conserva tão indelével, com sua beleza original, ao longo de décadas – até séculos?
Além de seu valor intrínseco, aquele decorrente do que ela representa fisicamente, a joia é plena de valores subjetivos, intangíveis. Os significados que ela carrega são extremamente ricos, no sentido mais amplo da palavra.
Um deles é que ela representa um desejo do ser humano – a permanência. Em contraste com o homem, transitório, efêmero, a joia é eterna, como gostaríamos de ser e como idealmente seriam todos os produtos de luxo. Embora possam e devam incorporar tendências de moda, refletir o design de seu tempo, as joias podem passar por gerações, contando histórias, testemunhando o correr dos anos e voltando a brilhar em sua plenitude com um simples polimento e algum carinho.
Outro valor simbólico da joia é sua capacidade de perpetuar momentos felizes, que sonhamos inesquecíveis. O ato de dar ou receber uma joia sempre envolve muita emoção, pois presentear com uma joia é expressar amor. E esse amor pode ser dedicado a outra pessoa, mas também a nós mesmos. É um belo gesto de autoestima adquirir uma joia para celebrar uma grande conquista pessoal ou profissional, que fica, assim, registrada para sempre.
Mas uma joia é sempre um objeto de luxo? Se levarmos em conta apenas o emprego de metais e pedras preciosos, podemos considerar que sim. Porém, sabemos que um item de luxo envolve muito mais que seu valor intrínseco ou funcional. Ele envolve exclusividade, design apurado, qualidade excepcional, confecção predominantemente artesanal, embalagem sedutora, marca respeitável, uma história encantadora… Todos esses aspectos, embora nem sempre objetivamente percebidos, resultam, somados, na percepção do luxo.
Nesse universo das joias de luxo genuíno, destacam-se peças às quais chamamos “alta joalheria”. Diferentemente da joalheria mais simples, que normalmente adota a reprodução em grandes séries, por processos mecânicos, a alta joalheria implica raridade e produz verdadeiras obras de arte. Ela emprega pedras preciosas extraordinárias, envolve designers, ourives, lapidadores e cravadores excepcionais, que se ocupam de criar, manualmente, peças exclusivas.
Sobre as gemas, não é exagero dizer que cada uma delas é única. De fato, como são resultado de uma série de fatores químicos e físicos, num processo que ocorre ao longo de milhões de anos, cada pedra preciosa tem sua identidade. Isso explica a dificuldade de confecção de um par de brincos de grandes esmeraldas, por exemplo, e é um dos motivos de seu alto custo. Trata-se de um desafio obter duas pedras de coloração, qualidade, dimensões e formatos semelhantes.
E, mesmo num colar ou anel de alta joalheria, muitas vezes a gema principal utilizada é tão fora de série que todo o design é dedicado a buscar a melhor forma para extrair dela todo o seu potencial de beleza e preservar suas dimensões naturais. O estilo e o formato da lapidação eleitos também buscam favorecer sua “vocação”, pois, quando falamos de uma pedra de alto valor e excepcionalmente rara, um corte que reduza seu tamanho além do estritamente necessário ou prejudique a incidência da luz que realça sua cor pode ser considerado um crime.
Mas não é só através das pedras preciosas que uma peça de alta joalheria busca a perfeição. De qualquer ângulo que se observe, a harmonia das formas está presente. E, muitas vezes, a joia esconde prazeres reservados somente a quem a possui – acabamento interno impecável, conforto no contado com o corpo, pequenas gemas cravados no interior dos aros de anéis, detalhes quase invisíveis nos fechos de colares, assinaturas de designers ou da marca charmosamente escondidos.
Naturalmente, um joalheiro de prestígio não oferece apenas itens de alta joalheria. Ele pode e deve criar peças de níveis variados de preço, atendendo a momentos diversos de um mesmo consumidor ou de diferentes consumidores. O essencial é que em todas elas esteja presente a personalidade, a qualidade, o rigor na confecção, a beleza. Enfim, todos os atributos que o cliente espera da marca e com os quais se identifica.
No Brasil, como fruto da abundância natural de gemas e metais preciosos, o segmento da joalheria é um dos mais representativos do mercado de luxo, com marcas nacionais de grande tradição e relevância internacional e novas marcas de alto nível florescendo a cada dia. Um orgulho verde e amarelo.
Da próxima vez que observar uma joia, lembre-se de que ela é fruto da dedicação e talento de muitos profissionais, verdadeiros artistas. E de que ela é um luxo que estará aqui, mesmo quando já não estivermos mais, ainda bela e eternamente jovem.
Por Rosana de Moraes, em ago’2016